IBGE apresenta mapa-múndi invertido com Sul no topo e Brasil ao centro

Nova cartografia oficial reforça papel geopolítico do país e propõe revisão das representações tradicionais do mundo

Fonte: Ana Cristina Campos – Repórter da Agência Brasil

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) lançou nesta semana uma nova versão oficial do mapa-múndi, com o Brasil posicionado ao centro e o hemisfério Sul no topo da imagem. A proposta rompe com a tradicional representação cartográfica e convida à reflexão sobre a simbologia geopolítica presente nos mapas.
A publicação ocorre em um momento estratégico para o país, que assume protagonismo global ao presidir o Brics e o Mercosul, além de sediar a COP30 em Belém (PA), evento da ONU sobre mudanças climáticas.
A nova representação também destaca países de relevância geopolítica para o Brasil, como os membros do Brics, do Mercosul, as nações lusófonas, os países amazônicos, e sinaliza cidades brasileiras com papel central em eventos internacionais, como o Rio de Janeiro (Brics), Belém (COP30) e Fortaleza, que receberá o Triplo Fórum Internacional da Governança do Sul Global em junho.
Segundo o IBGE, a inversão dos polos no mapa segue uma convenção cartográfica legítima. O objetivo é incentivar uma visão crítica sobre os vieses históricos e políticos da representação tradicional do mundo, em que o Norte é colocado no topo e a Europa no centro, reforçando, ao longo dos séculos, uma narrativa de dominação e superioridade.
Especialistas destacam que os mapas são construções simbólicas que refletem interesses, visões de mundo e disputas de poder. A nova abordagem do IBGE desconstrói a perspectiva eurocêntrica predominante desde o século 16 e valoriza o Sul Global, reposicionando o Brasil em uma posição central de relevância internacional.
O novo mapa também dialoga com produções acadêmicas e artísticas anteriores, como a obra “América Invertida” do artista uruguaio Joaquín Torres García, e se alinha a ideias como a de “sulear” o pensamento geográfico, como defendido por educadores latino-americanos.
A projeção escolhida para a nova versão é a Eckert III, criada em 1906 por Max Eckert-Greifendorff. Essa projeção é considerada adequada para fins temáticos, por representar o globo com menor distorção das áreas polares.
A mudança propõe uma cartografia mais representativa dos interesses do Sul Global, ainda que exija um processo de adaptação por parte do público, acostumado a ver o Norte no topo dos mapas escolares e globos terrestres.
Geógrafos alertam, no entanto, que essa nova visualização pode gerar resistência, sobretudo em setores que mantêm uma visão tradicionalista ou eurocêntrica do mundo. Ainda assim, o lançamento do IBGE é interpretado como um movimento simbólico de afirmação da soberania e da identidade brasileira no cenário global.
Mais do que facilitar a orientação geográfica, os mapas são ferramentas de poder, expressão ideológica e construção de imaginários. Nesse contexto, o novo mapa-múndi do IBGE marca uma virada na forma como o país se enxerga e se posiciona diante das dinâmicas internacionais contemporâneas.

 

Foto IBGE

 

 

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