Diálogos a partir das famílias: como o filme ‘Ainda estou aqui’ conecta a sociedade à Comissão sobre Mortos e Desaparecidos Políticos
O filme “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, estreou nos cinemas brasileiros na quinta-feira (7), trazendo à tona a história de Eunice Paiva, ativista pela memória das vítimas da ditadura militar. A obra narra a luta da viúva do ex-deputado Rubens Paiva, desaparecido após ser preso pelo regime militar em 1971. O drama da família Paiva, retratado no filme, conecta-se diretamente com os trabalhos da Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), que atua no reconhecimento das vítimas e no combate à impunidade do período.
A CEMDP foi criada em 1995 e tem como objetivo atender às famílias de desaparecidos políticos, como a de Eunice Paiva. O filho de Eunice, Marcelo Rubens Paiva, já havia relatado o sofrimento de sua mãe em seu livro, também intitulado “Ainda Estou Aqui”, que inspirou o filme. Em seu relato, Marcelo descreve como, por mais de 25 anos, sua mãe não pôde sequer realizar o inventário de bens do marido, já que ele era oficialmente considerado desaparecido, sem certidão de óbito.
O filme também dialoga com a atual gestão do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), que reabriu a CEMDP em 2023. O coordenador-geral de Apoio à Comissão, Caio Cateb, destaca que uma das principais funções da comissão é garantir o reconhecimento de pessoas desaparecidas como mortas, permitindo a reparação financeira às famílias. Um dos casos emblemáticos da comissão foi a identificação de ossadas no cemitério Dom Bosco, em São Paulo, que ajudou a elucidar casos de desaparecimentos forçados.
Além da importância histórica e política do filme, especialistas como Paula Franco, do MDHC, apontam a relevância da obra para o debate público sobre a memória e a verdade histórica. Para Franco, a arte tem o poder de sensibilizar e aproximar as novas gerações das violações de direitos humanos cometidas no passado. “A memória carrega uma possibilidade pedagógica, de aprendizado. A gente aprende justamente porque temos memória”, enfatiza Paula.
O filme “Ainda Estou Aqui” vai além de um retrato pessoal, ao apresentar uma história que ressoa com muitas famílias que sofreram com a violência do regime militar. Ao trazer à tona essa narrativa, o longa contribui para o debate sobre o acesso à verdade e o reconhecimento dos direitos das vítimas da ditadura, algo que continua sendo trabalhado pela CEMDP e pela sociedade civil.
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