Pesca artesanal estimula economia sustentável, na Região dos Lagos

Pesca artesanal estimula economia sustentável, na Região dos Lagos

Atividade pesqueira incentiva visitação de turistas para viver “experiências” no mar

Foto: Custódio Coimbra / Agência O Globo

Pesca artesanal impulsiona economia sustentável na Região dos Lagos, atraindo turistas para vivenciar experiências no mar. Iniciativas inovadoras, como fazendas marinhas com estruturas reutilizadas, fortalecem a maricultura.

A pesca artesanal na Região dos Lagos do Rio resiste e se aprimora,  seja com métodos centenários, como a rede e o curral, ou com novas alternativas mais sustentáveis na maricultura. Hoje, fazendas marinhas reutilizam estruturas descartadas de petroleiras para cultivar peixes e mariscos, e poderão ser visitadas no próximo verão.

Em Arraial do Cabo, na Praia dos Anjos, uma fazenda marinha criada pelo projeto Lagos em Ação, cultiva ostras, vieiras, mexilhões e peixes nativos, como olho-de-boi, xerelete e tainha. No meio do mar, eles instalaram tanques flutuantes, onde os peixes são criados. A estrutura foi montada com flutuadores (uma espécie de boia de polietileno) que tinham sido descartadas por plataformas de petróleo. Reutilizar a “sucata”, segundo o biólogo, pescador e coordenador do projeto Paulo Cordeiro, foi uma solução inovadora, econômica e sustentável para a cadeia produtiva da maricultura.

— Esses flutuadores substituem as atuais boias de galão, duram muito mais tempo e são mais baratos. Os produtos destinados a uma fazenda marinha são caros. Além de não contaminar o meio ambiente, o flutuador serve para fazer os tanques de peixe, captar sementes de mexilhões, e agregar vida ao processo. Um tanque rede é vendido a quase R$ 100 mil. Com a reutilização, a estrutura sai a R$ 25 mil — avalia Paulo.

Com o projeto, ele estuda a criação de um passeio turístico de grupos à fazenda marinha, com previsão de início no próximo verão.

— A pessoa vai poder conhecer de perto um pouco da maricultura com a família. A ideia é fazer o passeio em dois turnos, de manhã e à tarde, onde os grupos vão acompanhar, por exemplo, o manejo do pescado, pegar mexilhão, alimentar os peixes da fazenda, mergulhar e comer conosco — conta Paulo.

A maricultura é considerada uma atividade de pesca artesanal, uma vez que as pessoas que atuam na cadeia produtiva pertencem ao território pesqueiro e à comunidade caiçara que vive em torno do mar. O investimento chegou até o projeto desenhado pelo Paulo como uma contrapartida do Termo de Ajustamento de Conduta (TAC), feito pela Prio.

A Prio se tornou responsável por um vazamento de óleo ocorrido em 2012 e a partir do acidente, a empresa ficou obrigada a destinar um total de R$ 95 milhões em medidas compensatórias, somados a R$ 40 milhões em correções monetárias e rendimento financeiro no período. O recurso foi alocado em oito projetos, entre eles a Pesquisa Marinha e Pesqueira, que inclui, além do Lagos em Ação, mais de 70 iniciativas de comunidades do litoral do estado. Os termos foram elaborados junto ao Ministério Público Federal e o recurso gerido pelo Fundo Brasileiro para a Biodiversidade (Funbio).

— A pesca artesanal tem uma importância social, econômica e cultural em muitos níveis. Queremos que as pessoas vivam a experiência de estar num paraíso de águas cristalinas, natureza fantástica e desfrutem o melhor peixe — afirma Francisco da Rocha Guimarães Neto, mais conhecido como Chico Pescador, presidente da Associação de Pescadores Artesanais e Amigos da Praia da Pitória, em São Pedro da Aldeia.

Presidente da Associação dos Homens do Mar da Baía de Guanabara (Ahomar), entidade que luta pela preservação da pesca artesanal no estado do Rio, Alexandre Anderson de Souza disse que as ações e a aplicação de recursos das medidas compensatórias na base da cadeia ajudaram a qualificar a comunidade pesqueira.

— A sensibilidade foi a chave. Muitas pessoas que não sabiam escrever um projeto conseguiram, porque tiveram capacitação e monitoria para se inscrever num edital simplificado e acessaram o apoio financeiro. Recursos assim muitas vezes não chegam na ponta, nos caiçaras. As comunidades tradicionais e a pesca artesanal da Região dos Lagos e da própria região da Baía de Guanabara conseguiram se qualificar — avalia Alexandre.

A formação e o desenvolvimento da Região dos Lagos estão diretamente relacionados à economia do mar, seja pela pesca, que foi a primeira atividade econômica da região, seja pelo ciclo do sal, a exploração do petróleo ou pelo turismo.

— Houve um avanço importante com o saneamento e a melhoria da qualidade da água. Um desafio ainda é a infraestrutura de desembarque e processamento do pescado, que é feito em lugares sem condições sanitárias ou em equipamentos privados. Isso impede que seja vendido com valor agregado mais alto — avalia o subsecretário Felipe Peixoto.

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